Viemos aqui só para te ver, Flamengo
Neste domingo (19), após uma sequência de resultados negativos, o Flamengo enfrenta o campeão brasileiro precisando vencer em casa. Independente do resultado, uma coisa já perdemos: a chance de diminuir o distanciamento entre o clube e a sua Nação. De promover um grande reencontro.
Em Guardiola Confidencial, Pep, maior treinador do mundo, é o obsessivo que não gosta de abrir os trabalhos para a torcida. Ao chegar ao Bayern, dobra-se à cultura do clube:
Guardiola é o mais respeitado de todos. Genial, ofensivo e trabalhador. Mas até ele não subestima a cultura de um clube. Por que, então, os nossos profissionais o fazem?
Se 2017 descreveu alguma coisa nas páginas de nossa história é que passamos por um momento de perda de identidade. Não sabemos o que queremos do futebol, nossa proposta do jogo, o que de fato precisamos. Caímos no conto de que apenas planilhas e prêmios de gestão financeira levariam-nos ao topo e acordamos com um sabor amargo de rivais conquistando mais com menos.
Nesses momentos, nada melhor do que reencontrar o que é a coisa mais Flamengo do mundo: a Nação Rubro-Negra. Treino(s) na Gávea durante a semana poderia(m) mudar o ambiente.
No último sábado, o encontro nacional de embaixadas poderia ter sido uma festa muito diferente e especial para tantos. Ter gerado pautas positivas, imagens de rubro-negros vendo o time de perto pela primeira vez e muita, muita energia das arquibancadas históricas de nossa sede na Gávea.
Ao menos uma vez em 2017 o Flamengo poderia ter se interessado em promover este ambiente. Vimos em 2014 e 2015 a torcida virar o jogo. Hoje, o torcedor que nunca viajou de avião precisa ir ao aeroporto para poder manifestar seu apoio.
A maior crítica que se fez ao time deste ano, e a razão primordial para seus fracassos, foi a falta de uma identidade, uma essência rubro-negra, uma equipe que emanasse Flamengo. E, ainda que seja um problema a ser atacado em muitas frentes, é impossível fazer essa reconstrução com time e torcida divorciados.
Esses dois elementos precisam constituir um tecido vivo único, até o ponto em que seja impossível discernir o que é time em campo e torcida na arquibancada. Essa construção não se faz de uma hora para outra, com tentativas de reconciliação isoladas em momentos de crise. É um trabalho continuado e constante.
Um senhor do interior do nordeste apertando a mão de Diego, a filha de um embaixador paraense chorando ao conhecer Pará e outros temas possíveis envolvendo o torcedor que veio de milhares de quilômetros. O jogador vê e enxerga a dimensão do clube. Muda a sua perspectiva. Qual o drama? Qual a falta de foco para os atletas?
Aparentemente, nosso Departamento de Futebol ainda acredita que isolar mais os atletas da Nação acarretará melhores resultados. Se o destino tornar isso possível, chegaremos ao cúmulo de nos perguntar: que Flamengo é esse? Nada é mais Flamengo do que vermos rubro-negros saudando o time entrando para um mero treinamento sob cânticos e aplausos e, maravilhados com nós mesmos, berrarmos: “que torcida é essa?”
Flamengo, estamos aqui só para te ver. E torcer.