Todas as cores rubro-negras

Flamengo da Gente
3 min readJun 28, 2020

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“Bicha”, “veado”, “flor”, “bambi”, “marias”, “galinhas”… Mais antiga que o esporte bretão, a ideia de que futebol é esporte de homem — e de homem “macho” — persiste no imaginário popular, enraizada.

A homofobia e o machismo que ecoam das arquibancadas, de forma quase natural, são os mesmos que impedem jogadores de se assumirem como gays ou bissexuais e torcedores LGBTI+ de frequentarem os estádios com seus parceiros e suas parceiras.

As arenas esportivas se tornaram ambientes inóspitos a quem divide o amor pelo mesmo time, mas não pelo gênero oposto. Quantos de nós vamos aos jogos, porém, não nos sentimos à vontade para abraçar e beijar quem amamos na hora de um gol, por exemplo? Somos vigiados, observados — quando não agredidos verbal e fisicamente. “Aqui é lugar de homem, porra! Não de frutinha; não de sapatão; não de promíscuo!”

A opressão é real. Não é mimimi. Combatê-la é uma necessidade urgente. Incluir quem nunca pôde estar ali é garantir-lhes o mais básico da dignidade humana. Senão, torceremos pelo mesmo time, mas sempre estaremos em lados diferentes dessa arquibancada.

Antes a invisibilidade fosse só no estádio: a cada 25 horas, ao menos uma pessoa LGBTI+ é assassinada no Brasil devido à discriminação por sua orientação sexual ou identidade/expressão de gênero. Somos, segundo o Grupo Gay da Bahia e a Rede TransBrasil, o povo que mais mata LGBTIs+ no mundo.

Os dados são subnotificados. O preconceito, o medo, a culpabilização das próprias vítimas e a falta de políticas públicas dificultam o registro dos casos em delegacias.

Mesmo que timidamente, a Justiça não tem se omitido sobre o assunto. Em junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu equiparar a homofobia, a lesbofobia e a transfobia ao racismo, em termos de legislação penal. Após esse entendimento, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) prometeu agir de forma mais dura durante as partidas de futebol. A recomendação é que árbitros relatem ocorrências nas súmulas e que paralisem ou suspendam os jogos.

Num primeiro momento, a medida pareceu surtir efeito. Em 25 de agosto, o árbitro Anderson Daronco interrompeu a partida entre Vasco e São Paulo quando parte da torcida vascaína deu início a gritos homofóbicos nas arquibancadas de São Januário.

O que parecia ser o início de um movimento por mais respeito, contudo, parou por aí. O clube se livrou da punição e outras torcidas, como a nossa, que repetem cantos de igual teor — contra tricolores cariocas ou paulistas, por exemplo -, não foram sequer repreendidas.

“Querem deixar o futebol chato!”, muitos gritam, como se esquecessem que orientação sexual só é xingamento para quem reafirma o preconceito. “Eles também nos chamam de bandidos e mulambos!”, outros argumentam, como se a responsabilidade de combater a discriminação fosse só nossa.

Não é. O caminho é árduo. Mas precisamos começar a percorrê-lo, sob o risco de sempre apontarmos dedos e nunca agirmos na prática.

Lutar por um Flamengo popular, democrático e justo, principal bandeira do FdG, é também lutar por um clube verdadeiramente inclusivo, que acolha a todos, independentemente de raça, gênero, identidade ou orientação sexual. Neste 28 de junho — Dia do Orgulho LGBTI+ -, lançamos nossa Frente pela Diversidade Sexual e Igualdade de Gênero com um convite.

Se você, mulamba ou mulambo, lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual, queer, intersexual, assexual ou de qualquer outra denominação e expressão, se identifica com as nossas pautas, venha nos ajudar a pensar e construir esse espaço.

O Flamengo também é seu; é nosso. O Flamengo é da Gente; de todas as Gentes. Precisamos, enfim, ocupar a arquibancada — tradicional espaço de resistência — e torná-la tão democrática quanto o país que pensamos.

Nós existimos. E, juntas e juntos, resistimos. 🏳️‍🌈

#OrgulhoLGBT

#Pride

Conheça o nosso manifesto e junte-se a nós: https://docs.google.com/forms/d/1vcLzE-lCrDGg6Ikx5vhSpVC85ZCb8y4FgF6FYsznzEE/viewform?edit_requested=true

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Written by Flamengo da Gente

Movimento de torcedores, sócios-torcedores, sócios e conselheiros que defende um Flamengo vencedor, justo, democrático e popular. #NãoEsquecemos

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