Posicionamento do FdG na votação das contas de 2020 do Flamengo
Pelo segundo ano consecutivo, os conselheiros e as conselheiras do Flamengo da Gente se abstiveram na votação das contas do Clube de Regatas do Flamengo. Um ano depois de uma primeira votação de contas sem debate, sem exposição e sem diálogo, o processo se repetiu, na base da “aprovação” ou “rejeição” por e-mail — e o Conselho Deliberativo avançou mais um pouco no seu processo de transformação em Conselho Carimbador. Diante de um trâmite mais uma vez distorcido na origem, só nos restou a possibilidade da abstenção.
Não há sessão mais importante para o Conselho Deliberativo no ano do que a de votação das contas. A Assembleia Geral Ordinária é a ocasião privilegiada para que o órgão mais representativo da vida política do Clube se debruce sobre os rumos do objeto da nossa paixão. Tão importante quanto acessar pareceres e votar é debater, interpelar e ser acompanhado pelo conjunto do Conselho nesse debater e nesse interpelar. Discordemos, concordemos, aprovemos, rejeitemos, qual seja, mas sempre em intercomunicação. Que câmara é esta em que os pares perguntam apenas no privado, sem exposição de pontos de vista? Somos um conselho ou um agregado de contas de e-mail?
No ano passado, o Conselho Deliberativo do Flamengo poderia, ao menos, ter assegurado uma exposição em vídeo das contas e dos pareceres. Talvez não fosse possível ir além, dada a incerteza provocada pela chegada recente da pandemia. Mas e agora? O CoDe teve doze meses para se preparar e votar suas contas em uma sessão com exposições e debates abertos entre seus membros. Nada aconteceu, nada aprendeu. Apesar das sugestões práticas e chamamentos à ação. Apesar da adoção de modalidades remotas de reunião e sessão por governos, empresas e até por outros poderes do próprio Flamengo. Por que apenas o Conselho Deliberativo do Clube de Regatas do Flamengo deve renunciar à possibilidade de debater?
A despeito de nossa discordância fundamental em relação à condução da avaliação das contas, analisamos a documentação disponível e encaminhamos questões relativas às demonstrações financeiras de 2020, para efeito de consulta. Nossas perguntas abordaram os seguintes tópicos:
- Falta de transparência e redução dos direitos econômicos do Flamengo sobre atletas do clube;
- Detalhamento sobre receitas e despesas da Flaflu Serviços, empresa que é responsável pela administração do Complexo do Maracanã;
- Detalhamento dos direitos de transmissão, detalhamento da parceria com o BRB para apuração de valores variáveis referente ao patrocínio;
- Ressalva dos auditores por conta do intangível de atletas em formação;
- Aumento significativo da provisão para contingências cíveis;
- Necessidade de apontamento dos gastos com indenizações pela Tragédia do Ninho do Urubu;
- Aumento significativo da rubrica “Outras Despesas” e das despesas com fornecedores; e
- Remuneração da diretoria em patamares semelhantes aos de 2019 no mesmo momento em que houve significativa redução das despesas administrativas, em especial salários, encargos e benefícios, acordos diversos, assessorias e consultorias e serviços de terceiros.
Recebemos as respostas com relativa rapidez. Alguns dos pontos foram esclarecidos de forma adequada. Outros foram respondidos de forma evasiva, sem a devida transparência.
De novo, lamentamos a autoanulação dos poderes e prerrogativas no âmbito do Conselho Deliberativo do Clube de Regatas do Flamengo. E pedimos reflexão quanto ao precedente estabelecido. Quando a democracia interna recua, todos perdemos juntos.
A democracia começa pelo Flamengo.