Pelo direito de torcer, de jogar e de trabalhar

Flamengo da Gente
3 min readMar 8, 2020

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Como acontece já há alguns anos, clubes brasileiros mais ou menos preocupados com os direitos humanos de mulheres preparam homenagens para esse 8 de março. Jogadoras, torcedoras, técnicas, repórteres, narradoras e comentaristas que quebram barreiras em prol do esporte devem ser enaltecidas. Mas ações consistentes, que rompam de vez com as desigualdades — salariais, de condições e de acesso — para além dos discursos, são urgentes.

De acordo com o “14º Dossiê Mulher”, publicado em 2019 pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), do Rio de Janeiro, o número de mulheres vítimas dos crimes de estupro (85,6%), tentativa de estupro (90,9%), ameaça (66,8%), lesão corporal dolosa (65,3%), assédio sexual (90,9%), constrangimento ilegal (53,0%) e importunação ofensiva ao pudor (92,6%) é cada vez maior.

Apesar da propagação dos malefícios que esse tipo de violência acarreta, os próprios pesquisadores afirmam na publicação que as estratégias de defesa dos direitos da mulher são frágeis.

No futebol, cujo ambiente ainda é predominantemente masculino, a realidade não é diferente. Registros constantes de assédio, desrespeito e outras formas de constrangimento acabam afastando torcedoras dos estádios e impedindo que meninas realizem o sonho de se tornarem jogadoras, treinadoras ou repórteres esportivas.

Em fevereiro desse ano, a jornalista da FlaTV Julie Santos relatou que torcedores se aproveitaram para “passar a mão” enquanto ela cobria a partida entre Flamengo e Resende, pelo Estadual do Rio. Tanto o clube como representantes de organizadas repudiaram o ocorrido. Mas não foi a primeira nem será, infelizmente, a última situação de assédio num estádio de futebol.

Avanço a passos lentos

A Copa do Mundo da França, disputada entre junho e julho de 2019, alçou o futebol feminino a um outro patamar, alimentando as esperanças de que, enfim, a modalidade será valorizada. Mais de 58 mil pessoas assistiram à final, em Lyon. Após a seleção dos Estados Unidos bater a da Holanda, os necessários gritos de “Equal pay” (igualdade de pagamento, em tradução livre) ecoaram por todo o estádio.

Segundo relatório da Fifa, publicado na Agência Brasil, a competição também bateu recorde de audiência: foram 1,12 bilhão de espectadores ao redor do mundo — somando público de TV e de internet — o que representa um aumento de 30% em comparação à média registrada no Mundial de 2015, no Canadá.

Pela primeira vez, quatro canais brasileiros obtiveram os direitos de transmissão do torneio. A Rede Globo passou todas as partidas da seleção brasileira e garantiu visibilidade também nos programas esportivos. Os desafios ainda são enormes, é verdade. A desculpa de uma suposta falta de interesse, contudo, já não cola mais.

Na esteira do que ocorreu na Copa, cresce o número de pessoas que estão prestigiando os jogos do Brasileirão feminino. Jogadoras reconhecidas internacionalmente, como Tamires, Cristiane, Bia Zaneratto e Andressinha, optaram por voltar ao país. A Band TV tem transmitido jogos todos os domingos, às 14 horas, e muitos clubes já perceberam que a hora de investir no esporte, de formar equipes próprias e de ganhar novos adeptos é essa.

No que diz respeito ao direito de torcer, coletivos de torcedoras de diversos clubes também têm se organizado para convocar mulheres a ocupar seu espaço nas arquibancadas. A frente feminina do Flamengo da Gente desenvolve a campanha “Vamos Juntas”, reunindo torcedoras antes de grandes jogos no Maracanã. O caminho é longo. Mas conforta saber que não estamos mais sozinhas para percorrê-lo.

#NãoSeCale #VamosJuntas #DeixaElaTorcer #DeixaElaTrabalhar #MulheresnosEstadios #EstadioSemAssedio #8M #GoEqual

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Written by Flamengo da Gente

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