O verdadeiro pragmatismo

Flamengo da Gente
2 min readJul 25, 2017

--

Evitar a confusão entre “poder” e “dever” — eis uma tarefa urgente para o Clube de Regatas do Flamengo. De tão grande, o clube pode “elitizar em massa”, isto é, arrecadar muito contando com apenas uma fração da torcida? Pode e pode muito, pois mesmo um fragmento da maior torcida do Brasil mobiliza mais do que torcidas inteiras de outros clubes. Mas a questão é, na realidade, outra: deve o Flamengo elitizar em massa? Não, pelo menos se quiser a continuar sendo o Flamengo que se fez grande na opção pelo popular.

Não falamos de uma opção qualquer. Falamos de uma escolha de mais de oito décadas, uma obra de gênio que salvou o Flamengo do ostracismo, do elitismo e do amadorismo, e lançou-o à disputa por corações e mentes no país inteiro. Cabe aqui um nome, apenas um nome: José Bastos Padilha, presidente 1933 e 1937, o homem que enxergou na nação o horizonte não apenas mercadológico, mas também o horizonte espiritual de um Flamengo que pretendia ir além dos desfiles entre a Praia do Flamengo e o Largo do Machado. Para Padilha, ser Flamengo deveria ser uma forma mais completa de ser brasileiro, todo e qualquer brasileiro. Quando Domingos da Guia, Fausto e Leônidas da Silva, os maiores craques negros da época, vestiram rubro-negro, o discurso ganhou corpo. E o Flamengo mudou.

Se, mesmo antes da chegada de Padilha e dos craques negros, o Flamengo já era o time da força de vontade e da irreverência, foi só quando o clube escolheu ser popular, na fala, na face e na festa, que o Flamengo ganhou escala. É esse Flamengo de Padilha, o Flamengo ultrabrasileiro, que transbordou do campo para a sociedade, da arquibancada para a cultura, indo para muito além do círculo imediato de seus fundadores. Sem a matriz popular, mal haveria um Flamengo a ser contado, menos ainda cantado. O Flamengo pragmático de verdade é o Flamengo popular.

O problema é que esse Flamengo não é irrevogável. A insistência num falso pragmatismo, incapaz de reconhecer a verdadeira fortaleza do clube, assim como a falta de imaginação para fazer dinheiro como uma marca popular, podem colocar sim o Flamengo a perder. Ninguém quer apenas caridade, já passou de moda o populismo, romantismo não basta: por que o Flamengo não lança, a exemplo do Internacional, um programa de Sócio Torcedor Popular?

O Flamengo que conhecemos é um esforço a ser renovado — mais ainda, reiterado: de longe, no que se projeta e no que se conta; e de perto, no como se vive o clube e no como se ocupa o estádio. Nós não esquecemos que o Flamengo já foi diferente. Nós não esquecemos do que fez o Flamengo grande. Nós não esquecemos. E não deixaremos esquecer.

--

--

Flamengo da Gente
Flamengo da Gente

Written by Flamengo da Gente

Movimento de torcedores, sócios-torcedores, sócios e conselheiros que defende um Flamengo vencedor, justo, democrático e popular. #NãoEsquecemos

No responses yet