Nota Oficial do Flamengo da Gente sobre os últimos acontecimentos
O Flamengo da Gente nunca omitiu que um de seus objetivos principais é colaborar pelo alinhamento do clube à defesa dos direitos humanos e à responsabilidade social. Temos a visão do Flamengo como força motriz da mudança do futebol no país e no continente e é por isso que fazemos uma oposição responsável e propositiva. Críticas não são traições. Pelo contrário, a crítica ajuda na reconstrução de rumos e na correção de equívocos.
Nada do que foi feito, equilibrado ou consertado isenta esta ou qualquer outra gestão da crítica. O êxito com cifrões — e mais recentemente com o futebol — não isenta erros em outras áreas. E entre elas, está a responsabilidade social. Devemos investir em nossa imagem por meio do exemplo.
Criticamos e atuamos contra o uso indevido do nome do clube pelo então presidente Eduardo Bandeira de Mello na eleição para deputado federal. Nos preocupávamos, já naquele momento, com o fato de que o Flamengo deveria ser salvaguardado de disputas partidárias externas e estranhas ao seu fim social e esportivo. Alguns dos membros do Flamengo da Gente entraram com pedido de inquérito junto aos poderes do clube para apuração desses fatos.
Já na atual gestão, ao celebrarmos Stuart Angel, notório remador bicampeão carioca pelo clube que teve misteriosamente suas homenagens prévias descaracterizadas inexplicavelmente, assistimos com estranheza uma manifestação que diminuiu e desprezou um dos maiores nomes da história do Flamengo. Em nota divulgada, a diretoria fez questão de afirmar que a celebração de um atleta desta envergadura não tinha, no seu entendimento, nada a ver com a instituição, alegando que “qualquer manifestação política” é “estatutariamente vedada” às diretorias. Aqui, cabe lembrar que Stuart Angel já havia sido homenageado pelo clube em outras oportunidades, tendo seu nome cravado em nossa Calçada da Fama e com a colocação de uma placa na garagem do Remo, em 2010.
Nossa luta por responsabilidade acabaria por se tornar uma de nossas mais importantes bandeiras quando a fatalidade do incêndio no Ninho do Urubu vitimou dez de nossas crianças. Mesmo em luto, o Flamengo da Gente entrou com pedido de abertura de Inquérito Interno para apuração das responsabilidades e questionamentos sobre o desastre — a despeito das iniciativas do poder público — acreditando que tal iniciativa deveria ser capitaneada pelo próprio Flamengo, exercendo o exemplo de clube-cidadão, em paralelo às ações de acolhimento, apoio e consolo aos familiares e amigos daquelas crianças que estavam sob nossa responsabilidade. Recentemente, uma reportagem investigativa descobriu uma série de e-mails que evidenciam a negligência do clube e, somada à falta de iniciativa do Flamengo, comprometem ainda mais a imagem do clube neste episódio.
Dentre algumas propostas de ações neste doloroso caso, protocolamos uma emenda estatutária com vistas ao estabelecimento do 8 de fevereiro como o Dia da Memória, em razão do incêndio ocorrido no Ninho do Urubu. Entre alçadas e burocracias internas, a emenda nunca foi sequer apresentada ao plenário do Conselho Deliberativo para votação, nem tampouco foi avaliada por iniciativa própria pelo Conselho Diretor que segundo pareceres seria o instituto/organismo competente para apreciar tal matéria.
Mais recentemente, viemos a público repudiar de forma veemente um mal disfarçado “Edital de Expulsão” que anunciou o aumento da mensalidade da categoria Contribuinte na modalidade Off Rio de R$ 64 para R$ 170, um salto espantoso de 165% em tempos de pandemia e crise. Diante de um passo que se anuncia como decisivo para fechar ainda mais a já fechadíssima política do clube e tamanha a arbitrariedade da medida, o Flamengo da Gente emitiu uma nota em conjunto com outros grupos políticos para reforçar uma luta que deveria ser de todos no clube: a ampliação da democracia no Flamengo.
A atuação política do Flamengo da Gente não é pautada pelos resultados no campo de jogo, mas sim, pelos valores que defendemos: tornar o Flamengo um clube inclusivo, democrático e popular, cuja administração do futebol obedeça os princípios da boa governança, do profissionalismo e da responsabilidade financeira, para que opiniões acerca de erros e acertos não flutue em razão dos resultados em campo.
Não obstante nossas lutas internas por um clube mais democrático, inclusivo e conectado com suas matrizes populares, o mundo se viu ainda no primeiro semestre em meio à avassaladora epidemia do novo coronavírus. Mais do que nunca, esperávamos do Flamengo um papel de liderança que sempre lhe coube no cenário nacional. Infelizmente, o caminho seguido pelo clube foi avesso àquele que se espera de uma instituição comprometida com o profissionalismo de ponta e mesmo com a ciência dentro e fora do esporte. A despeito das demonstrações financeiras que, em simulações e cenários de stress, relatavam que não havia motivo de preocupação quanto ao equilíbrio econômico-financeiro do clube, foram demitidos 62 funcionários, corroborando que a gestão de pessoas e a responsabilidade social não está entre as prioridades desta gestão. Mais uma vez, o Flamengo da Gente, através de seus associados, cobrou as devidas explicações do clube, que seguiu cobrando associados e sócios-torcedores normalmente, além dos recebíveis dos respectivos patrocinadores que não foram renegociados. Mais uma vez, o Flamengo não respondeu nosso questionamento.
Cientes de que nossa missão de fazer uma oposição responsável e propositiva requer vigilância constante, percebemos através de inúmeras matérias na mídia uma pressa injustificável que se traduziu em atitude precipitada e incompatível com a responsabilidade social do Flamengo. Foi com espanto que percebemos também a posição de protagonismo que o Flamengo assumiu junto à FFERJ e às três instâncias do governo pela volta dos campeonatos regionais e do campeonato brasileiro, com base em um protocolo de atuação sem o devido amplo debate com a sociedade, baseado apenas em estudos que corroboram o viés negacionista que infelizmente assolou as autoridades do país.
Mesmo tendo convivido com a fatalidade em seu quadro de funcionários, a pandemia não pareceu assustar diretores e simpatizantes. Dada a inevitabilidade do retorno do futebol, reiteramos o apelo para que, ao menos, o clube atuasse ativamente nas redes sociais e nos canais oficiais de comunicação, no sentido de desestimular qualquer tipo de aglomeração de torcedores para acompanhar as partidas, zelando pela saúde de todos — inclusive daqueles que se encontram em maior situação de vulnerabilidade.
Mais uma vez, enviamos questionamentos para a diretoria do Flamengo. No rol das perguntas enviadas, duas se relacionavam especificamente ao protocolo sanitário amplamente atribuído na mídia como elaborado pelo próprio clube. Mais uma vez, o Flamengo não respondeu nosso questionamento.
É com profundo desgosto que hoje vemos que tais respostas poderiam esclarecer como, até o momento, mais de sete jogadores profissionais e dois funcionários do departamento de futebol se encontram contaminados simultaneamente.
Diante de todo o exposto, o Flamengo da Gente continua aguardando esclarecimentos e reitera seu compromisso de seguir cobrando todas as respostas.