Não esquecemos. Jamais vamos esquecer.
Depois do choque, da dor, da consternação geral e dos efeitos imediatos do incêndio do Ninho do Urubu, seguiu-se a vergonha. Mas também vieram com ela a solidariedade e a compaixão, até de onde menos se esperaria. Do Vasco, seu grande rival, o Flamengo recebeu o abraço e o gesto de gigante de ter seu escudo entrelaçado ao cruzmaltino.
Mas, se há a altivez, há a mesquinharia. E, à medida que o impacto da tragédia que matou 10 rapazes foi-se diluindo no tempo, começaram a se revelar os oportunistas, os cínicos, os hipócritas.
É nessa categoria que se enquadram os anônimos que prepararam uma ação — ataque é, a bem da verdade, a palavra mais adequada — para o jogo desta noite contra o Flamengo.
Revestiram-se com a imitação da decência e da moralidade para recair no clubismo em sua forma mais desavergonhada.
Sim, porque se o real objetivo desse grupo fosse a preocupação com as famílias e a memória dos Garotos do Ninho, ou mesmo com as devidas punições, tal movimentação não seria feita por ocasião exclusiva da partida, e muito menos montada nas arquibancadas a serem ocupadas pelos torcedores rubro-negros, que, de fato, não têm responsabilidade sobre a tragédia. Ainda que muitos de nós, por escolha, coloquemos sobre os nossos ombros esse peso.
A única pretensão dos autores desse ataque é agredir, intimidar, ferir quem já está ferido. É constranger o ato de torcer pelo Flamengo.
Por que lembrar a quem não esquece? Por que cobrar de quem já cobra? Por que esfregar o horror na face de quem não o oculta a cada jogo? Militam em prol do quê? Da transformação da memória para lutar em arma para ferir?
Responsáveis somos, sim, pelo que, a partir da Tragédia, fizemos, fazemos e faremos. E fizemos bastante, acreditamos. Gostaríamos de ter feito mais. Temos limites. Externamente, a polícia e o MP têm de dar respostas sobre o curso do inquérito. Intramuros, cobramos e seguimos cobrando a instauração de uma comissão de inquérito.
Se fosse verdadeira a intenção desses anônimos de lutar pela justiça e respeito aos mortos, estariam ao nosso lado. Podemos caminhar juntos com vascaínos, botafoguenses e tricolores, nessa e noutras frentes, desde que compartilhem de nossos valores e nossas bandeiras.
O que não aceitamos — ao contrário, repudiamos de forma veemente — é o uso da tragédia por motivo reprovável, como ódio clubista. Além de não carregar nenhuma indignação autêntica, esse tipo de atitude atrapalha, porque leva o debate para um campo envenenado.
Expressamos nossa insatisfação com a condução do caso pelos dirigentes do clube, inclusive quanto ao acolhimento das famílias, ao longo de todos esses meses.
Nas redes sociais, na sede da Gávea, nas ruas e nas arquibancadas, sempre reafirmamos que não esquecemos. Lema estampado no peito de muitos em cada jogo no Maracanã.
A tragédia do Ninho é tema de luta do Flamengo da Gente. Memória, verdade e justiça são palavras que norteiam nossas ações sobre tudo que se relaciona à instituição Flamengo.
Não esquecemos. Jamais vamos esquecer.