Dez anos da homenagem do Flamengo a Stuart Angel
No dia 9 de dezembro de 2010, o Clube de Regatas do Flamengo inaugurou na sede náutica um memorial em homenagem a Stuart Angel, atleta vencedor pelo Rubro-Negro, estudante de Economia e militante assassinado pela ditadura que combatia. A iniciativa contou com o apoio da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, entre outras entidades. Até 2016, o memorial permaneceu no local como um marco da luta contra o arbítrio, até ser retirado pela Autoridade Olímpica durante uma reforma. Nunca voltou.
E por que a sede náutica do Flamengo? Bicampeão carioca de remo pelo Clube (1964–1965), Stuart encontrou na garagem de barcos à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas um abrigo, anos depois de atuar pelo Clube. Durante uma pequena parte do período passado na clandestinidade, chegou a dormir num barco na sede náutica — não deixava a garagem nem para comprar comida. Por vontade própria, deixou a sua segunda casa para não comprometer a segurança dos amigos. “Está ficando perigoso andar comigo”, dizia aos companheiros de Flamengo.
Perseguido pela repressão, acabou preso em 1971. Depois de uma série de sessões de tortura, foi amarrado a um jipe e arrastado pelo pátio da Base Aérea do Galeão, numa tarde de maio. Em intervalos, os torturadores aproximavam a boca de Stuart do cano de descarga, para que aspirasse gases tóxicos. Levado de volta à cela, morreu clamando por água. Stuart militava pelo MR-8. Tinha 25 anos de idade. Foi sequestro. Foi desaparecimento forçado. Foi assassinato.
O crime e a ocultação do paradeiro do corpo de Stuart se tornaram ícones da brutalidade da ditadura brasileira. O caso constrangia até a linha dura da repressão, exposta e pressionada pela coragem de uma mulher: a estilista Zuzu Angel, mãe de Stuart, que morreria em 1976 vítima do que hoje é oficialmente reconhecido como um atentado.
Um capítulo da história do Brasil passa pela sede náutica do Flamengo, e não há como apagá-lo. Não, o Clube não retirou o memorial, mas pode sim coloca-lo de volta no local de onde nunca deveria ter saído. Essa seria uma atitude à altura da grandeza do Flamengo. Basta querer. Basta ouvir. Basta responder.
Em março de 2019, sócios, integrantes e amigos do grupo Flamengo da Gente realizaram na sede náutica um ato em homenagem Stuart Angel, o rubro-negro de flâmulas no quarto, o campeão nas raias, o opositor político ao regime ditatorial. Na mesma ocasião, o Flamengo da Gente lançou uma campanha pela recolocação do monumento.
Cerca de oito meses depois, anunciamos ao Conselho Diretor do Clube o atingimento das metas de arrecadação para a produção e a instalação de um novo memorial, menor, em forma de placa, adequado à nova configuração do espaço:
STUART EDGAR ANGEL JONES
Janeiro/1946 a Maio/1971
Bicampeão Carioca de Remo 1964 e 1965
“Tua Glória É Lutar”
Reinaugurada por torcedores e sócios do clube
Há dez anos, o memorial era inaugurado. Há quatro anos, era retirado. Há mais de um ano, aguardamos resposta à oferta de reinauguração do monumento — sem custos para o Clube.
Não propomos um acréscimo, nem uma inovação — ansiamos apenas pela restituição de um item que já existia, num local já demarcado, em prol da memória do Clube e da própria história do Brasil.
Memória. Verdade. Justiça.
Honrem quem honra o Flamengo.